Ameaça e inevitabilidade do segundo resgate ou o Fracasso do Governo Passos Coelho

O Dr. Passos Coelho ameaçou-nos com um segundo resgate, pretextando-o na decisão do Tribunal Constitucional. Terá razão?

Queira o leitor atentar no gráfico seguinte. Ele mostra os Credit Default Swaps (CDS) pagos pela dívida pública portuguesa em três momentos:  o começo de março, quando eles atingiram o seu preço mais baixo, desde o pedido de resgate; a seguir à crise da coligação entre o CDS e o PSD; e depois da decisão tomada pelo Tribunal Constitucional quinta-feira passada. Para efeito de comparação, damos os valores dos CDS da Irlanda e da Espanha nesses mesmos períodos. Os CDS cobrem o risco de bancarrota do país que emite a dívida.  Quanto maior é o prémio dos CDS, maior é o risco e mais difícil o acesso ao mercado financeiro.

CdsSet2013Fonte: CNBC

Como o leitor vê, a crise na coligação governamental saiu-nos até ao momento mais cara do que a decisão do Tribunal Constitucional: a crise aumentou o custo dos nossos CDS em 20% e a decisão em 11%. Há porém uma grande diferença entre ambas: a crise do governo foi provocada pelos partidos do governo e a crise do TC não foi provocada pelos juízes do TC mas sim pelos partidos do Governo. Com efeito,  se o Dr. Passos Coelho, em vez de negar a realidade, e atacar os juízes do TC, anunciasse que ia aplicar um plano B, os nossos CDS não teriam subido sexta-feira passada. A alta  dos nossos CDS na sexta-feira é devida ao Dr. Coelho e não ao Tribunal Constitucional.

A questão essencial, porém, está no valor absoluto dos nossos CDS: já antes da crise PP/PSD, o nosso CDS era demasiado elevado para nos permitir o acesso ao mercado sem uma penalização elevada; o gráfico mostra esse desnível: já no começo de março, o nosso CDS era cerca do dobro do irlandês. Não há um valor tabelado para tal regresso, mas acima de 100 dólares de CDS o país em causa tem um spread doloroso; e acima de 200 tem um spread punitivo. Por isso, depois da crise, mesmo antes da decisão do Tribunal Constitucional, falar em regresso ao mercado era uma fantasia. Ou seja: o governo falhou.  O Dr. Passos Coelho devia tirar as conclusões: confessar que falhou a sua política financeira e demitir-se ou mudar radicalmente de política, passando a defender-nos do estrangeiro em vez de nos atacar para ter uma vida mais fácil com os estrangeiros.

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