União Europeia: PPE e PSE já violaram ontem a sua grande Promessa eleitoral

 

 ToutVaBienOntem, a ária célebre foi cantada no Conselho Europeu

O Partido Popular Europeu (PPE) e o Partido Socialista Europeu (PSE) prometeram-nos que o próximo presidente da Comissão Executiva seria escolhido pelos eleitores: como o PPE teve mais votos, o presidente deveria ser o Sr. Juncker. Mas o Conselho de Ministros europeu reuniu ontem e mandatou o Sr. van Rompuy para negociar um sucessor do Dr. Barroso com os grupos parlamentares – o que significa que deixaram cair o Sr. Juncker, pois a promessa só poderia ter sido cumprida se ele tivesse sido apresentado ao Parlamento Europeu. O leitor queira anotar que não foram uns a prometer e outros a violar pois o PPE e o PSE em conjunto têm por certo a maioria dos votos no Conselho Europeu: os governos da Alemanha, França, Espanha, Itália, os países com mais votos, integram esses partidos.

Os partidos políticos nos últimos tempos foram unânimes a lacrimejar que as promessas violadas os separavam do eleitorado – e por isso violarem uma promessa, a promessa (democratizar a UE, aproximar os dirigentes  dos  eleitores). A violação ocorreu logo  na primeira reunião pós eleitoral, o que revela eficácia superior à médida da UE e parece ser um bom caminho para acelerarem o seu descrédito.
O descrédito da UE resultará também do imobilismo: durante cerca de um mês tudo o que se passará serão negociações vagamente inintelígiveis (a bem da transparência, ninguém nos informou sobre o que se passou no Conselho Europeu de ontem). Só no final do próximo mês o Sr. van Rompuy se desincumbirá da outra missão que também lhe foi ontem cometida: um projeto de reformas para a UE.

O triunfalismo desajustado será outra causa de descrédito da UE. O nosso Primeiro Ministro relembrou  ontem a vitória dos partidos do statu quo da UE nas eleições de domingo (queria por certo dizer que eles ainda têm a maioria dos lugares no Parlamento Europeu) e defendeu sem rir uma tese extraordinária: em França e no Reino Unido as derrotas dos partidos mainstream de esquerda e de direita têm «uma explicação muito mais nacional do que europeia» – mas o Dr. Passos Coelho esqueceu-se de explicar a razão porque o UKIP britânico e o Front National francês ambos concordam em apresentar a UE como a origem dos males das respetivas pátrias. Para a extraordinária teoria também terá sido coincidência, sem ter nada a ver com a austeridade, que os eleitores portugueses tivessem fugido dos partidos troikistas-austeritários: os eleitores de Lisboa estão descontentes com a previsível alta do preço do vinho, os eleitores durienses receiam mau tempo nas víndimas, etc, cada um votou pelas suas razões locais, que nada têm a ver com a política portuguesa. Ou seja: para os atuais dirigentes da UE, a UE é sempre boa, mesmo quando os eleitores dos seus Estados-membros a consideram má. O Dr. Coelho só dará boa nota aos eleitores britânicos e franceses quando eles votarem contra a UE por razões que o próprio Dr. Coelho classifique de dignamente europeias e vagamente federalistas. Ai se os britânicos sabem disto!!! Ai se os franceses desconfiam!!! Tremerão e votarão direitinho, claro.

Como o leitor deduziu, voltou ontem a ser cantada em Bruxelas  Vai tudo muito bem, Senhora Marquesa, a ária caricaturando a nobreza francesa nas vésperas da Revolução de 1789.

ToutVaBienMmeLaMarquiseÀ direita, o Dr. Paulo Portas, ja encanecido e entrado em ordens, tenta persuadir o Dr. Passos Coelho a tomar o caminho do bem e canta-lhe a ária Tout va très bien Madame la Marquise.

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