Bruegel: Dívida portuguesa é insustentável sem 4% de Crescimento nominal + Saldo primário positivo


BruegelDesempregoDéficeDívidaA troika foi sempre otimista – contra Portugal (Gráficos do
Jornal de Negócios, a partir do relatório EU-IMF assistance to euro area countries: an early assessment)

«Sendo as taxas de juro nominais a longo prazo cerca de 6%, Portugal necessita de um crescimento nominal do Pib de pelo menos 4% (o que implica um crescimento real de pelo menos 2,5%) e de um saldo primário positivo para assegurar a sustentatbilidade da dívida», afirma o relatório EU-IMF assistance to euro area countries: an early assessment, do instituto Brugel, um think-tank de Bruxelas, influente na Comissão Europeia. Crescimento real é o que resulta de descontarmos a inflação ao crescimento nominal.  Saldo primário positivo é a diferença entre as receitas e as despesas correntes, excluindo o serviço da dívida.

Desde que existe o euro, Portugal nunca chegou aos 2,5% de crescimento anual do Pib embora se tenha aproximado desse valor em 2007. Saldo primário positivo não é realidade registada nas últimas décadas. Como nem as mais fantasistas previsões do governo Passos Coelho  nos atribuem aquela taxa de crescimento, nem um saldo primário positivo e substancial, a dívida é insustentável. É uma conclusão inquietante. Esta conclusão  ratifica o comentário d’ O Economista Português ao suposto triunfo do último empréstimo Gaspar: a austeridade foi inútil pois a dívida continua a não ser sustentável. Porque a sustentatibilidade é como a virgindade: é impossivel ser um bocadinho insustentável como é impossível ser um bocadinho virgem. Talvez a dívida seja hoje um bocadinho mais sustentável, mas continua insustentável. Se não mudarmos de política,  para pagarmos a dívida, teremos que continuar a empobrecer, ano após ano.

As causas da ausência de crescimento, segundo o relatório, são, além da desalavacagem da banca e das empresas (isto é: a menor capacidade para concederem crédito), a fraca procura externa, o baixo crescimento da produtividade e o peso continuado do setor de bens não transacionáveis.  Os dois últimos fatores mostram que o Governo não levou a cabo as anunciadas reformas estruturais – ou, se as efetivou, elas são inadequadas ao fim pretendido.

O relatório começa por  julgar «provável» o regresso de Portugal  aos mercados mas nas conclusões é mais prudente: «poderá» regressar,  contudo «a sua economia permanece estruturalmente fraca e frágil contra os choques». A chave está «no crescimento», conclui, ao contrário da tese do governo do Dr. Passos Coelho. Sem crescimento, regressar aos mercados é acumularmos uma dívida que não poderemos pagar.

O relatório compara os programas impostos à Grécia, à Irlanda e a Portugal; mostra que a troika foi otimista demais nas condições que impôs, mas é indulgente para ela: «foi um tanto superotimista». Este julgamento é aliás inexato pois a troika foi «superotimista» quando convinha aos seus mandantes. Com efeito,  errou da mesma maneira sobre aqueles três países: as quedas da procura e do emprego foram sempre maiores do que o previsto, ao passo que o saldo da balança de pagamentos corrente melhorou sempre mais do que as previsões. A conclusão óbvia é que os erros da troika beneficiam sempre os credores daqueles três países, pois quanto mais melhora o saldo da balaça corrente maior é o reembolso dos seus créditos. Conclusão que aliás o relatório não extrai. Como o erro da troika é sempre o mesmo e sempre na mesma direção, não é um erro casual.

BruegelCrescimentoeInflação

O relatório, que também analisa a interação entre os três componentes da troika,  é da autoria de Jean-Pisany Ferry, que acaba de ser nomeado responsável do Departamento de Planeamento francês, de André Sapir, um economista crítico do euro que não é desconhecido dos frequentadores d’ O Economista Português, e de Guntram B. Wolff, subdiretor do Bruegel; está disponível em

http://www.bruegel.org/publications/publication-detail/publication/779-eu-imf-assistance-to-euro-area-countries-an-early-assessment/

Corrigenda

Graça a um leitor atento, O Economista Português informa que  confundiu o acima nomeado André Sapir, um economista bruxelino, com Jasques Sapir, um economista crítico das teses bruxelinas.

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